A∴A∴
Publicação em Classe A.
Liber Cordis Cincti Serpente
por V.V.V.V.V.
I
- Eu sou o Coração; e a Serpente está entrelaçada
Ao redor do centro invisível da mente.
Erguei-vos, Ó minha serpente! É chegada a hora
da santa flor ocultada e inefável.
Erguei-vos, Ó minha serpente, no brilho da floração
Sobre o cadáver de Osíris flutuante na tumba!
Ó coração de minha mãe, minha irmã, meu próprio,
Tu fostes dado ao Nilo, ao terror de Tífon!
Ah mim! mas a glória da tempestade voraz
te amarra e te envolve no frenesi da forma.
Ficai imóvel, Ó, minha alma! De modo que o encantamento possa dissolver
Assim que os bastes forem erguidos, e os æons revolverem.
Vede! na minha beleza o quão feliz Tu és,
Ó Serpente que acaricias a coroa do meu coração!
Vede! Nós somos um, e a tempestade dos anos
Desce para o crepúsculo, e o Besouro aparece.
Ó Besouro! O zumbido da Tua dolorosa nota
Seja sempre o transe desta trêmula garganta!
Eu aguardo o despertar! Os chamados do alto
Do Senhor Adonai, do Senhor Adonai! - Adonai falou para V.V.V.V.V., dizendo: Deve sempre haver divisão na palavra.
- Pois as cores são muitas, mas a luz é só uma.
- Portanto tu escreveste aquilo que é da mãe de esmeralda, e de lápis-lazúli, e de turquesa, e de alexandrita.
- Outro escreveu as palavras de topázio, de ametista profunda, e de safira cinza, e de safira profunda com uma cor como sangue.
- Portanto vos atormentais a si mesmos por causa disso.
- Não estejais satisfeitos com a imagem.
- Eu que sou a Imagem de uma Imagem digo isto.
- Não debateis a respeito da imagem, dizendo Além! Além!
Um subiu até a Coroa pela lua e pelo Sol, e pela flecha, e pela Fundação, e pelo lar escuro das estrelas da terra negra. - De outro modo vós não poderíeis alcançar o Ponto Suave.
- Nem é apropriado ao sapateiro dar palpites sobre o assunto Real. Ó, sapateiro! Reparai este sapato para mim, para que eu possa caminhar. Ó, rei! Se eu for o teu filho, falemos sobre a Embaixada para o Rei teu Irmão.
- Então houve silêncio. A fala nos deixou por algum tempo.
Há uma luz tão vigorosa que não é percebida como luz. - A praga do lobo não é tão cortante como o aço; ainda assim ela perfura o corpo mais sutilmente.
- Assim como beijos perversos corrompem o sangue, também as minhas palavras devoram o espírito do homem.
- Eu respiro, e há infinita doença no espírito.
- Como um ácido corrói o aço, como um câncer que corrompe totalmente o corpo; assim sou Eu sobre o espírito do homem.
- Eu não descansarei até que eu tenha dissolvido isso tudo.
- Assim também a luz que é absorvida. Um absorve pouco e é chamado branco e brilhante; um absorve tudo e é chamado negro.
- Logo, Ó meu querido, tu és negro.
- Ó meu belo, eu te comparei a um escravo Núbio da cor de azeviche, um garoto de olhos melancólicos.
- Ó, o sujo! O cão! Eles clamam contra ti.
Porque tu és meu bem amado. - Felizes são aqueles que te louvam; pois eles verão a ti com os Meus olhos.
- Eles não te louvarão falando alto; mas espreitando na noite um se moverá em segredo na proximidade, e te agarrará com o aperto secreto; outro lançará secretamente uma coroa de violetas sobre ti; um terceiro se arriscará com grande nobreza, e pressionará seus loucos lábios contra os teus.
- Sim! a noite cobrirá tudo, a noite cobrirá tudo.
- Há muito tempo tu estás Me buscando; tu correste adiante tão rápido que eu não fui capaz de te alcançar.
Ó tu, tolo querido! Com que amargura tu coroaste os teus dias. - Agora eu estou contigo; eu jamais deixarei o teu ser.
- Pois eu sou aquela macia e sinuosa que está entrelaçada ao redor de ti, coração de ouro!
- Minha cabeça está adornada com doze estrelas; Meu corpo é branco como o leite das estrelas; ele brilha com o azul do invisível abismo de estrelas.
- Eu descobri aquilo que não podia ser encontrado; eu encontrei um vaso de azougue.
- Tu instruirás o teu servo nos seus modos, tu falarás muitas vezes com ele.
- (O escriba olhou para cima e exclamou) Amém! Tu o falaste, Senhor Deus!
- Mais adiante Adonai se dirigiu a V.V.V.V.V. e disse:
- Deleitemo-nos na multidão dos homens!
Moldemos para nós um barco de madrepérola feito com eles, para que possamos navegar sobre o rio de Amrit! - Tu vês aquela pétala de amaranto, soprada pelos ventos das baixas sobrancelhas doces de Hathor?
- (O Mestre a viu e se regozijou com sua beleza.) Ouças!
- (De um certo mundo veio uma lamúria infinita.)
Aquela pétala que caía parecia aos pequenos uma onda que iria engolir seu continente. - Então eles repreenderão teu servo, dizendo: Quem te determinou para nos salvar?
- Ele ficará dolorosamente aflito.
- Todos eles não compreendem que tu e eu estamos moldando um barco de madrepérola. Nós navegaremos através do rio de Amrit, exatamente para os bosques de teixos de Yama, onde poderemos nos regozijar extremamente.
- O prazer dos homens será o nosso raio prateado, sua angústia o nosso raio azul – tudo na madrepérola.
- (O escriba se irou por causa daquilo. Ele falou:
Ó Adonai e meu mestre, eu carreguei o tinteiro de chifre e a pena sem pagamento, de modo que eu pudesse procurar esse rio de Amrit, e nele navegar como um de vós. Isto eu exijo como minha recompensa, que eu participe do eco dos seus beijos.) - (E isso foi concedido a ele imediatamente.)
- (Não; mas nem após isso ele ficou satisfeito. Ele ambicionou com um infinito aviltamento até a vergonha. Então uma voz:)
- Tu lutaste sempre; mesmo na tua renúncia tu lutaste para ganhar – e vede! Tu não te rendeste.
- Ide tu para os lugares mais distantes e dominai todas as coisas.
- Dominai o teu medo e o teu descontentamento. Então – rende-te!
- Havia uma donzela que estava perdida entre o milho, e suspirava; então houve um novo nascimento, um narciso, e ali ela esqueceu seu soluçar e sua solidão.
- No mesmo instante Hades cavalgou pesadamente para cima dela, e a levou para longe.
- (Então o escriba conheceu o narciso no seu coração; mas porque ele não alcançou os seus lábios, por isso ele se envergonhou e não falou mais.)
- Adonai se dirigiu novamente a V.V.V.V.V. e disse:
A terra está pronta para a colheita; comamos de suas uvas, e então nos embriaguemos. - E V.V.V.V.V. respondeu dizendo: Ó meu senhor, meu pombo, meu excelente, como esta palavra parecerá aos filhos dos homens?
- E Ele respondeu: Não como tu não consegues ver.
É certo que toda letra desta cifra tem algum valor; mas quem determinará o valor? Pois ele sempre varia, conforme a sutileza d’Aquele que o fez. - E Ele respondeu: Não tenho eu a chave disto?
Estou vestido com o corpo de carne; eu sou um com o Eterno e Onipotente Deus. - Então disse Adonai: Tu tens a Cabeça do Falcão, e teu Falo é o Falo de Asar. Tu conheces o branco, e tu conheces o preto, e tu sabes que estes são um. Mas por que tu procuras o conhecimento da sua equivalência?
- E ele disse: Para que a minha Obra possa ser correta.
- E Adonai disse: O forte ceifador marrom atou o seu pacote e regozijou. O homem sábio contou os seus músculos, e ponderou, e não compreendeu, e estava triste.
Ceifa tu, e regozijai! - Então o Adepto estava alegre, e ergueu seu braço.
Vede! Um terremoto, e praga, e terror sobre a terra!
Uma queda daqueles que se assentam nos lugares altos; uma fome sobre a multidão! - E as uvas caíam maduras e abundantes na sua boca.
- Tingido está o púrpura da tua boca, Ó brilhante, com a glória branca dos lábios de Adonai.
- A espuma da uva é como a tempestade sobre o mar; os navios tremem e se agitam; o capitão do navio está com medo.
- Aquilo é a tua embriaguez, Ó santo, e os ventos levam para longe a alma do escriba para o refúgio feliz.
- Ó, Senhor Deus! Que o refúgio seja lançado abaixo pela fúria da tempestade! Que a espuma da uva tinja minha alma com a Tua luz!
- Baco envelheceu, e era Silenus; Pan foi sempre Pan para sempre e mais ainda através dos æons.
- Intoxicai o mais íntimo, Ó meu amante, não o mais externo!
- Então foi isso – sempre o mesmo! Eu tenho buscado pelo bastão descamado do meu Deus, e alcancei; sim, eu alcancei.
II
- Eu entrei na montanha de lápis-lazúli, exatamente como um falcão verde entre os pilares de turquesa, que está assentado sobre o trono do Leste.
- Então eu vim para o Duant, a morada estrelada, e eu ouvi vozes gritando alto.
- Ó Tu que te assentas sobre a Terra! (assim falou um certo Velado para mim) tu não és maior que tua mãe! Tu partícula de poeira infinitesimal!
Tu és o Senhor da Glória, e o cão impuro. - Inclinando-me, baixando minhas asas, eu vim até as moradas sombriamente esplêndidas. Lá naquele abismo informe me tornei um participante dos Mistérios Adversos.
- Eu experimentei o abraço mortal da Serpente e do Bode; eu prestei a reverência infernal à vergonha de Khem.
- Ali havia esta virtude, que o Um se tornou tudo.
- Ainda mais, Eu tive a visão de um rio. Havia ali um pequeno barco; e nele sob velas púrpuras havia uma mulher dourada, uma imagem de Asi moldada no mais fino ouro. Também o rio era de sangue, e o barco era de aço brilhante. Então eu a amei; e, desatando meu cinturão, me lancei na correnteza.
- Eu permaneci no pequeno barco, e por muitos dias e noites eu a amei, queimando belo incenso perante ela.
- Sim! Eu dei a ela da flor da minha juventude.
- Mas ela não se moveu; apenas pelos meus beijos eu a deflorei de modo que ela se alterou para a negrura perante mim.
- Ainda assim eu a adorei, e dei a ela da flor da minha juventude.
- Também isso se passou, que desse modo ela adoeceu, e se corrompeu perante mim. Quase Eu me lancei para dentro da correnteza.
- Então ao final designado seu corpo estava mais branco que o leite das estrelas, e seus lábios vermelhos e quentes como o por do sol, e sua vida de um calor branco como o calor do sol a pino.
- Então ela se ergueu do abismo das Eras de Sono, e seu corpo me abraçou. Eu me dissolvi completamente na sua beleza e estava feliz.
- O rio também se tornou o rio de Amrit, e o pequeno barco era a carruagem da carne, e as velas ali eram o sangue do coração que me nutria, que me nutria.
- Ó mulher serpente das estrelas! Eu, eu mesmo, Te moldei de uma imagem pálida de fino ouro.
- Também O Santo veio a mim, e eu contemplei um belo cisne flutuando no azul.
- Entre suas asas eu sentei, e os æons iam passando.
- Então o cisne voou e mergulhou e planou, ainda assim prosseguimos sem destino.
- Um garotinho louco que montava comigo se dirigiu ao cisne, e falou:
- Quem és tu que flutuas, e voas, e mergulhas e planas no vazio? Vede, estes muitos æons se passaram; de onde tu vieste? Para onde vais?
- E rindo eu o repreendi, dizendo: De nenhum lugar! Para nenhum lugar!
- Estando o cisne silencioso, ele respondeu: Então, se não há um destino, por que esta eterna viagem?
- E eu repousei a minha cabeça contra a Cabeça do Cisne, e ri, dizendo: Não há prazer inefável neste voo sem destino? Não haveria fadiga e impaciência para aquele que alcançasse algum destino?
- E o cisne estava sempre silencioso. Ah! Mas nós flutuamos no Abismo infinito. Prazer! Prazer!
Cisne branco, que tu sempre me leves entre as tuas asas! - Ó silêncio! Ó êxtase!
Ó fim das coisas visíveis e invisíveis! Tudo isso é meu, que Não sou. - Deus Radiante! Deixa-me moldar uma imagem de gemas e ouro para Ti! Que as pessoas possam lançá-la ao chão e esmagá-la com os pés até virar pó! Que a Tua glória possa ser vista por eles.
- Nem será falado nos mercados que eu sou aquele que deve vir; mas a Tua vinda será a única palavra.
- Tu Te manifestarás no imanifesto; nos locais secretos os homens se reunirão contigo, e Tu os subjugarás.
- Eu vi um triste garoto pálido que repousava sobre o mármore sob a luz do sol, e chorava. Ao seu lado estava o alaúde esquecido. Ah! Mas ele chorava.
- Então veio uma águia do abismo da glória e o ofuscou. Tão negra era a sombra que ele não era mais visível.
- Mas eu ouvi o alaúde discursando vivamente através do ar azul estagnado.
- Ah! mensageiro do Bem Amado, que a Tua sombra esteja sobre mim!
- Teu nome é Morte, pode ser, ou Vergonha, ou Amor.
Então se tu me trazes notícias sobre o Bem Amado, eu não perguntarei o teu nome. - Onde está agora o Mestre? Clamam os garotinhos loucos.
Ele está morto! Ele está envergonhado! Ele está comprometido! E seu escárnio circulará pelo mundo. - Mas o Mestre terá tido a sua recompensa.
A gargalhada dos zombeteiros será uma onda no cabelo do Bem Amado. - Vede! O Abismo da Grande Profundeza.
Lá existe um poderoso delfim, agitando seus flancos com a força das ondas. - Também há um harpista de ouro, tocando melodias infinitas.
- Então o delfim se deleitou ali, e despiu-se de seu corpo, e se tornou um pássaro.
- O harpista também pôs de lado a sua harpa, e tocou melodias infinitas na flauta de Pan.
- Então o pássaro desejou excessivamente este êxtase, e baixando suas asas se tornou um fauno da floresta.
- O harpista também pôs de lado a sua flauta de Pan, e com a voz humana cantou as suas melodias infinitas.
- Então o fauno estava extasiado, e seguiu adiante; por fim o harpista estava silencioso, e o fauno se tornou Pan no meio da floresta original da Eternidade.
- Tu não podes encantar o delfim com silêncio, Ó meu profeta!
- Então o adepto foi arrebatado em êxtase, e para além do êxtase, e excedeu o excesso do excesso.
- E seu corpo sacudiu e cambaleou com o fardo daquele êxtase e daquele excesso e daquele derradeiro indescritível.
- Eles gritaram Ele está embriagado ou Ele está louco ou Ele está em dores ou Ele está quase para morrer; e ele não os ouviu.
- Ó meu Senhor, meu querido! Como eu comporei canções, quando até mesmo a memória da sombra da tua glória é algo além de toda música, da fala, ou do silêncio?
- Vede! Eu sou um homem. Mesmo uma criancinha não conseguiria Te suportar. E vede!
- Eu estava só em um grande parque, e próximo a um certo outeiro havia um anel de grama profundamente esmaltado onde aqueles vestidos de verde, muito belos, brincavam.
- Em sua brincadeira Eu vim diretamente para a terra do Sono Mágico.
Todos os meus pensamentos estavam vestidos de verde; muito belos eram eles. - Por toda a noite eles dançaram e cantaram; mas Tu és a manhã, Ó meu querido, minha serpente que Te duplicas em volta deste coração.
- Eu sou o coração, e Tu és a serpente. Enrosca mais forte as Tuas espirais em torno de mim, de modo que nenhuma luz e nenhum êxtase possam penetrar.
- Espreme o meu sangue, como uma uva sobre a língua de uma garota Dórica branca que desvanece com seu amante sob a luz da lua.
- Então deixai o Fim despertar.
Por muito tempo tu tens dormido, Ó grande Deus Terminus!
Por longas eras tu tens aguardado nas margens da cidade e das estradas de lá.
Desperta Tu! não espereis mais! - Não, Senhor! Mas eu vim até Ti. Sou eu quem espera por fim.
- O profeta clamou contra a montanha; vinde tu até aqui, de modo que eu possa falar contigo!
- A montanha não se moveu. Portanto o profeta foi até a montanha, e falou com ela. Mas os pés do profeta estavam cansados, e a montanha não ouviu a sua voz.
- Mas eu chamei a Ti, e viajei até chegar a Ti, e isso não me foi de valia.
- Eu aguardei pacientemente, e Tu estavas comigo desde o início.
- Isto eu sei agora, Ó meu querido, e nós estamos espreguiçados e à vontade entre as vinhas.
- Mas estes teus profetas; eles precisam bradar e flagelar a si mesmos; eles devem cruzar desertos impenetráveis e oceanos insondáveis; na expectativa de que Tu estás no fim, e não no começo.
- Que a escuridão cubra a escrita! Que o escriba se desvie entre seus caminhos.
- Mas tu e eu estamos espreguiçados e à vontade entre as vinhas; o que é ele?
- Ó Tu Amado! não há um fim? De fato, mas há um fim. Desperta! Erga-te! Cingi os teus membros, Ó tu, corredor; levai tu a Palavra para as poderosas cidades, sim, para as poderosas cidades.
III
- Verdadeiramente e Amém! Eu passei através do mar profundo, e pelos rios de águas correntes que abundam por lá, e eu cheguei à Terra do Não Desejo.
- Na qual havia um unicórnio branco com um colar de prata, onde estava entalhado o aforismo Linea viridis gyrat universa.
- Então a palavra de Adonai veio a mim pela boca do meu Mestre, dizendo: Ó coração que estás circundado pelas espirais da velha serpente, erga-te até a montanha da iniciação!
- Mas eu me lembrei. Sim, Than, sim, Theli, sim, Lilith! essas três estavam à minha volta há tempos. Pois elas são uma.
- Bela eras tu, Ó Lilith, tu serpente-mulher!
- Tu eras macia e deliciosa ao paladar, e teu perfume era de almíscar misturado com âmbar cinzento.
- Firmemente estavas tu abraçada com tuas espiras ao coração, e era como o prazer de toda energia.
- Porém eu percebi em ti uma certa macula, mesmo naquilo em que eu me deleitava.
- Eu percebi em ti a macula de teu pai o símio, do teu ancestral, o Verme Cego do Lodo.
- Eu olhei fixamente para o Cristal do Futuro, e vi o horror do teu Fim.
- Além disso, eu destruí o tempo Passado, e o tempo Vindouro – não tinha eu o Poder do Relógio de areia?
- Mas na mesma hora eu percebi a corrupção.
- Então eu disse: Ó meu querido, Ó Senhor Adonai, eu oro a ti para soltar as espiras da serpente!
- Mas ela estava muito apertada sobre mim, de modo que a minha Força estava estagnada pela sua absorção.
- Eu também orei ao Deus Elefante, o Senhor das Causas, para que destruísse a obstrução.
- Estes deuses vieram rapidamente em meu socorro. Eu os observei; eu me uni a eles; eu estava perdido em sua amplidão.
- Então eu observei a mim mesmo circundado pelo Círculo Infinito de Esmeralda que circundava o Universo.
- Ó, Serpente de Esmeralda, Tu não tens tempo Passado, nem tempo Vindouro. Verdadeiramente Tu não és.
- Tu és delicioso além de todo paladar e toque, Tu não-és-para-ser-contemplado pela glória, Tua voz está além da Fala e do Silêncio e a Fala dali, e o Teu perfume é de puro âmbar cinzento, que não é comparado com o mais refinado de todo o ouro mais fino.
- Também Tuas espiras são de alcance infinito; o Coração que Tu circundas é um Coração Universal.
- Eu, e Mim, e Meu estavam sentados com alaúdes na praça do mercado da grande cidade, a cidade das violetas e das rosas.
- A noite caiu, e a música dos alaúdes terminou.
- Surgiu a tempestade, e a música dos alaúdes terminou.
- A hora passou, e a música dos alaúdes terminou.
- Mas Tu és Eternidade e Espaço; Tu és Matéria e Movimento; e Tu és a negação de todas estas coisas.
- Pois não existe Símbolo de Ti.
- Se eu digo Vinde sobre as montanhas! as águas celestiais fluem ao meu comando. Mas tu és a Água além das águas.
- O coração vermelho com três ângulos foi estabelecido no Teu santuário; pois os sacerdotes menosprezaram igualmente o santuário e o deus.
- Ainda assim Tu estavas oculto ali o tempo todo, como o Senhor do Silêncio está oculto nos botões do lótus.
- Tu és Sebek o crocodilo contra Asar; tu és Mati, o Matador no Abismo. Tu és Tífon, a Fúria dos Elementos, Ó Tu que transcendes as Forças na sua Conjunção e Coesão, na sua Morte e na sua Ruptura. Tu és Píton, a terrível serpente junto ao fim de todas as coisas!
- Eu girei em torno de mim por três vezes em toda direção; e por fim sempre eu me deparei Contigo.
- Eu percebi muitas coisas indiretas e imediatas; porém, não mais as contemplando, eu Te contemplei.
- Vinde tu, Ó Bem Amado, Ó Senhor Deus do Universo, Ó Vasto, Ó Minúsculo! Eu sou o Teu bem amado.
- Todo dia eu canto sobre o Teu deleite; toda noite eu me delicio na Tua canção.
- Não há outro dia ou noite como estes.
- Tu estás além do dia e da noite; eu sou Tu mesmo, Ó meu Criador, meu Mestre, meu Companheiro!
- Eu sou como o cãozinho vermelho que senta sobre os joelhos do Desconhecido.
- Tu me trouxeste em grande deleite. Tu me deste da Tua carne para comer e do Teu sangue para uma oferenda de embriaguez.
- Tu cravaste as presas da Eternidade na minha alma, e o Veneno do Infinito me consumiu completamente.
- Eu me tornei como um demônio voluptuoso da Itália; uma mulher bem forte com faces cansadas, consumida pela fome de beijos. Ela viveu como meretriz em vários palácios; ela deu o seu corpo às feras.
- Ela matou sua parentela com forte veneno de sapos; ela foi flagelada com muitos bastões.
- Ela foi feita em pedaços sob a Roda; as mãos do enforcado a prenderam nela.
- As fontes de água se desprenderam sobre ela; ela lutou com tormento excessivo.
- Ela foi rompida pelo impacto com o peso das águas; ela afundou no Mar terrível.
- Assim sou eu, Ó Adonai, meu senhor, e tais são as águas da Tua insuportável Essência.
- Assim sou eu, Ó Adonai, meu bem amado, e Tu me rompeste completamente pelo impacto.
- Eu estou derramado como o sangue jorrado por sobre as montanhas; os Corvos da Dispersão me carregaram totalmente para longe.
- Portanto o selo está desatado, o qual guardava o Oitavo abismo; portanto o vasto mar é como um véu; portanto há uma divisão de todas as coisas.
- Sim, também verdadeiramente Tu és a água fria parada da fonte do feiticeiro. Eu me banhei em Ti, e me perdi na Tua quietude.
- Aquele que adentrou como um bravo garoto com belos membros acabou como uma donzela, como uma criancinha para perfeição.
- Ó Tu, luz e deleite, arrebata-me para longe no oceano leitoso das estrelas!
- Ó Tu, Filho de uma mãe que transcende a luz, bendito seja o Teu nome, e o Nome do Teu Nome, por toda a eternidade!
- Vede! Eu sou uma borboleta na Fonte da Criação; deixa-me morrer antes da hora, caindo morto na Tua correnteza infinita!
- Também a correnteza das estrelas flui mais majestosa sobre a Morada; carrega-me para longe no Seio de Nuit!
- Este é o mundo das águas de Maim; esta é a água amarga que se tornou doce. Tu és belo e amargo, Ó dourado, Ó meu Senhor Adonai, Ó tu Abismo de Safira!
- Eu Te sigo, e as águas da Morte lutam tenazmente contra mim. Eu atravesso as Águas para além da Morte e além da Vida.
- Como eu responderei ao homem tolo? De jeito nenhum ele virá à Tua Identidade!
- Mas eu sou o Louco que não teve cautela com o Jogo do Mago. A mim a Mulher dos Mistérios instruiu em vão; eu rebentei os elos do Amor e do Poder e da Adoração.
- Portanto a Águia se tornou uma com o Homem, e as forcas da infâmia dançam com o resultado do justo.
- Eu desci, Ó meu querido, nas águas negras brilhantes, e eu Te puxei como uma pérola negra de infinita preciosidade.
- Eu desci, Ó meu Deus, no abismo de tudo, e eu Te encontrei no meio sob a máscara de Nada.
- Mas como Tu és o Último, Tu és também o Próximo, e como o Próximo eu Te revelo na multidão.
- Aqueles que sempre Te desejaram Te alcançarão, mesmo no Fim do seu Desejo.
- Glorioso, glorioso, glorioso és Tu, Ó meu amante celeste, Ó Ser do meu ser.
- Pois eu Te descobri igualmente no Mim e no Ti; não há diferença, Ó meu Belo, meu Desejável! No Um e nos Muitos eu Te descobri; sim, eu Te descobri.
IV
- Ó, coração de cristal! Eu a Serpente, Te agarro; eu penetro a minha cabeça no núcleo central de Ti, Ó Deus meu bem amado.
- Exatamente como nas retumbantes alturas de Mitylene açoitadas pelo vento onde alguma mulher semelhante à divindade que lança à parte a lira, e com seus cachos em chamas como uma auréola, mergulha no coração encharcado da criação, também assim eu, Ó Senhor meu Deus!
- Há uma beleza indescritível neste coração de corrupção, onde as flores estão em chamas.
- Ai de mim! Mas a sede do Teu prazer resseca esta garganta, de modo que não consigo cantar.
- Eu farei para mim um pequeno barco com a minha língua, e explorarei os rios desconhecidos. Pode ser que o sal eterno venha a se tornar doçura, e que a minha vida possa não mais ser sedenta.
- Ó vós que bebeis da salmoura do vosso desejo, vós estais próximos da loucura! Vossa tortura aumenta enquanto vós bebeis, ainda assim vós continuareis a beber. Vinde através das enseadas até a água fresca; eu estarei aguardando por vós com meus beijos.
- Como a pedra-bezoar que é encontrada no ventre da vaca, assim é o meu amor entre os amantes.
- Ó menino de mel! Traz-me Teus membros frios para cá! Sentemos por algum tempo no pomar, até que o sol se ponha! Festejemos sobre a grama fria! Trazei vinho, vós escravos, para que as faces do meu menino possam ficar coradas.
- No jardim dos beijos imortais, Ó Tu Brilhante, irradiai! Fazei da Tua boca ópio-de-papoula, para que um beijo seja a chave para o sono infinito e lúcido, o sono de Shi-loh-am.
- Em meu sono eu percebo Universo como um cristal claro sem uma única impureza.
- Existem os miseráveis que se arrogam como se ricos fossem e que ficam na porta da taverna e tagarelam bêbados de vinho sobre seus feitos.
- Existem os miseráveis que se arrogam como se ricos fossem e que ficam na porta da taverna e ultrajam os convidados.
- Os convidados flertam sobre divãs de madrepérola no jardim; o ruído dos homens tolos é escondido deles.
- O estalajadeiro teme apenas que os favores do rei venham a lhe ser negados.
- Assim falou o Mestre V.V.V.V.V. a Adonai seu Deus, enquanto eles brincavam juntos sob a luz das estrelas no poço negro e profundo que está no Lugar Santo da Casa Santa sob o Altar do Santíssimo.
- Mas Adonai riu, e brincou mais languidamente.
- Então o escriba tomou nota, e estava feliz. Mas Adonai não tinha medo do Mago e do seu jogo.
Pois foi Adonai que havia ensinado todos os seus truques ao Mago. - E o Mestre entrou no jogo do Mago. Quando o Mago riu, ele riu; tudo como um homem deve fazer.
- E Adonai disse: Tu estás enredado na teia do Mago. Isto Ele disse sutilmente, para experimentá-lo.
- Mas o Mago deu o sinal do Mestrado, e riu voltando-se para Ele: Ó Senhor, Ó amado, estes dedos relaxam sobre os Teus cachos, ou estes olhos se desviam dos Teus?
- E Adonai se deleitou excessivamente com ele.
- Sim, Ó meu mestre, tu és o amado do Amado; o Pássaro Bennu não está estabelecido em Philæ em vão.
- Eu que era a sacerdotisa de Ahathoor regozijo no teu amor. Ergue-te, Ó Deus-Nilo, e devorai o lugar santo da Vaca do Céu! Que o leite das estrelas seja bebido por Sebek o habitante do Nilo!
- Ergue-te, Ó serpente Apep, Tu és Adonai o amado! Tu és meu querido e meu senhor, e o Teu veneno é mais doce que os beijos de Isis a mãe dos Deuses!
- Pois Tu és Ele! Sim, Tu engolirás Asi e Asar, e os filhos de Ptah. Tu derramarás uma enxurrada de veneno para destruir as obras do Mago. Apenas o Destruidor Te devorará; Tu enegrecerás sua garganta, onde habita o seu espírito. Ah, serpente Apep, mas eu Te amo!
- Meu Deus! Deixe que a Tua presa secreta perfure até o tutano do ossinho secreto que eu mantive contra o Dia da Vingança de Hoor-Ra. Que Kheph-Ra ressoe seu élitro de zangão! Que os chacais do Dia e da Noite uivem no deserto do Tempo! Que as Torres do Universo oscilem, e que os guardiões corram para longe! Pois o meu Senhor Se revelou como uma poderosa serpente, e o meu coração é o sangue do Seu corpo.
- Eu sou uma languida cortesã amorosa de Corinto. Eu brinquei com reis e capitães, e os tornei meus escravos. Até hoje eu sou a escrava da pequena víbora da morte; e quem desprenderá o nosso amor?
- Exaustão, exaustão! Disse o escriba, quem me conduzirá até a visão do Êxtase do meu mestre?
- O corpo está exausto e a alma está dolorosamente exausta e o sono pesa nas suas pálpebras; ainda assim sempre permanece a indubitável consciência do êxtase, desconhecido, ainda assim conhecido naquilo em que seu ser é infalível. Ó Senhor, sede meu auxílio, e traz-me ao êxtase do Bem Amado!
- Eu vim até a casa do Bem Amado, e o vinho era como fogo que voava com asas verdes através do mundo das águas.
- Eu senti os lábios vermelhos da natureza e os lábios negros da perfeição. Como irmãs elas afagaram a mim, seu irmãozinho; elas me enfeitaram como uma noiva; elas me prepararam para a Sua câmara nupcial.
- Elas voaram para longe na Tua chegada; eu estava sozinho perante Ti.
- Eu tremi na Tua chegada, Ó meu Deus, pois o Teu mensageiro era mais terrível do que a Estrela da Morte.
- Na soleira permaneceu a fulminante figura do Mal, o Horror da vacuidade, com seus olhos sinistros como poços venenosos. Ele permaneceu, e a câmara estava corrompida; o ar estava pestilento. Ele era um peixe velho e enrugado mais medonho do que as conchas de Abaddon.
- Ele me envolveu com seus tentáculos de demônio; sim, os oito terrores se apoderaram de mim.
- Mas eu estava ungido com o genuíno óleo suave do Mestre; eu deslizei do abraço como uma pedra arremessada por um garoto dos bosques.
- Eu estava plano e duro como marfim; o horror não se apossou. Então ao ruído do vento da Tua chegada ele foi dissolvido, e o abismo da grande voz foi aberto perante mim.
- Através do mar sem ondas da eternidade Tu cavalgaste com Teus capitães e Tuas hostes; com Tuas carruagens e cavaleiros e lanceiros Tu viajaste através do azul.
- Antes que eu Te visse, Tu já estavas comigo; eu fui transpassado pela Tua lança maravilhosa.
- Eu fui atingido como um pássaro pelo raio de Júpiter; eu fui perfurado como um ladrão pelo Senhor do Jardim.
- Ó meu Senhor, velejemos por sobre o mar de sangue!
- Há uma profunda mácula sob o êxtase inefável; é a macula da geração.
- Sim, embora a flor na onda cintile ao brilho do sol, a raiz é profunda na escuridão da terra.
- Louvor a ti, Ó bela terra escura, tu és a mãe de um milhão de miríades de miríades de flores.
- Também eu contemplei o meu Deus, e o Seu semblante era mil vezes mais brilhante do que o raio. Ainda assim no seu coração eu observei o Lento e Escuro, o antigo, o devorador dos Seus filhos.
- Nas alturas e no abismo, Ó meu belo, não há nada, realmente, não há nada em absoluto, que não seja completamente e perfeitamente formado para o Teu deleite.
- A Luz se fixa na Luz, e a sujeira na sujeira; com orgulho um despreza o outro. Mas não Tu, que és tudo, e mais além; que estás absolvido da Divisão das Sombras.
- Ó dia de Eternidade, que a Tua onda irrompa em glória sem espuma de safira sobre o laborioso coral de nossa criação!
- Fizemos para nós um anel de areia branca brilhante, sabiamente espalhada no meio do Oceano Encantador.
- Que as palmeiras brilhantes floresçam sobre a nossa ilha; nós comeremos do seu fruto, e seremos felizes.
- Mas para mim a água da purificação, a grande ablução, a dissolução da alma naquele abismo retumbante.
- Eu tenho um filho pequeno que é como um bode travesso; minha filha é como uma jovem águia ainda sem penas; eles terão barbatanas, a fim de que possam nadar.
- Que eles possam nadar, Ó meu bem amado, nadar para longe no mel cálido do Teu ser, Ó abençoado, Ó garoto de beatitude!
- Este meu coração está circundado com a serpente que devora suas próprias espiras.
- Quando haverá um fim, Ó meu querido, Ó quando o Universo e o Senhor deste serão completamente engolidos?
- Não! quem devorará o Infinito? Quem desfará o Erro do Início?
- Tu gritaste como um gato branco sobre o teto do Universo; não há ninguém para Te responder.
- Tu és como uma pilastra solitária no meio do mar; não há ninguém para Te contemplar, Ó Tu que contemplas tudo!
- Tu desmaiaste, tu falhaste, tu, escriba; gritou a Voz desolada; mas eu te preenchi com um vinho cujo sabor tu não conheces.
- Será proveitoso embriagar o povo da velha esfera cinza que rola no Remoto infinito; eles lamberão o vinho como os cães que lambem o sangue de uma bela cortesã transpassada pela Lança de um cavaleiro que passa veloz através da cidade.
- Eu também sou a Alma do deserto; ainda assim tu me buscarás novamente no deserto de areia.
- Na tua mão direita um grande soberano e um galante; na tua mão esquerda uma mulher vestida de tênue tecido e ouro e portando as estrelas no seu cabelo. Vós viajareis para longe em uma terra de pestilência e infortúnio; vós acampareis à margem do rio de uma louca cidade esquecida; lá vós vos encontrareis Comigo.
- Lá eu farei a Minha morada; eu virei adornado e ungido como que para núpcias; lá a Consumação será realizada.
- Ó meu querido, eu também aguardo pelo brilho da hora inefável, quando o universo será como um cinturão para o centro do raio do nosso amor, estendendo-se para além do fim permitido do Eterno.
- Então, Ó tu, coração, eu a serpente te devorarei totalmente; sim, eu te devorarei totalmente.
V
- Ah! meu Senhor Adonai, que flertais com o Mago na Casa dos Tesouros de Pérolas, deixa-me ouvir o eco dos teus beijos.
- O céu estrelado não é sacudido como uma folha pelo trêmulo arrebatamento do teu amor? Não sou eu a esvoaçante centelha de luz lançada em rodopio pelo grande vento da tua perfeição?
- Sim, eu gritei para O Santo, e da Tua centelha eu acenderei ao Senhor uma grande luz; eu queimarei através da grande cidade na terra velha e desolada; eu a limparei da sua grande impureza.
- E tu, Ó profeta, verá estas coisas, e tu não prestará atenção a elas.
- Agora o Pilar está estabelecido no Vazio; agora Asi está repleta com Asar; agora Hoor desce para a Alma Animal das Coisas como uma estrela flamejante que cai por sobre a escuridão da terra.
- Através da meia noite tu és lançado, Ó minha criança, meu conquistador, meu capitão cingido com a espada, Ó Hoor! E eles te encontrarão como uma pedra negra sulcada cintilante, e eles te adorarão.
- Meu profeta fará profecia a respeito de ti; as donzelas dançarão ao redor de ti, e bebês esplendorosos nascerão delas. Tu inspirarás os orgulhosos com orgulho infinito, e os humildes com um êxtase de humilhação; e tudo isso transcenderá o Conhecido e o Desconhecido algo que não tem nome. Pois isto é como o abismo do Arcano que está aberto no secreto Local do Silêncio.
- Tu vieste para cá, Ó meu profeta, através de caminhos sombrios. Tu comeste do estrume dos Abomináveis; tu te prostraste perante o Bode e o Crocodilo; os homens maus fizeram de ti um joguete; tu tens perambulado como uma meretriz pintada, encantando com um doce perfume e tinturas chinesas, nas ruas; tu escureceste as covas dos teus olhos com Kohl; tu pintaste teus lábios com cor escarlate; tu cobriste as tuas faces com esmaltes de marfim. Tu agiste como devassa em cada portal e atalhos da grande cidade. Os homens da cidade te cobiçaram para abusar de ti e para te espancar. Eles abocanharam as lantejoulas douradas de pó fino com as quais tu adornaste o teu cabelo; eles açoitaram a tua carne pintada com os seus chicotes; tu sofreste coisas indizíveis.
- Mas eu queimei por dentro de ti como uma pura chama sem óleo. À meia noite eu era mais brilhante do que a lua; à luz do dia eu excedia completamente o sol; nos atalhos do teu ser eu incendiei, e dissipei a ilusão.
- Portanto tu és totalmente puro diante de Mim; portanto tu és a Minha virgem pela eternidade.
- Portanto eu te amo com amor incomparável; portanto aqueles que te desprezam adorarão a ti.
- Tu serás amável e deplorável com relação a eles; tu os curarás do mal inexprimível.
- Eles se modificarão na sua destruição, exatamente como duas estrelas negras que colidem entre si no abismo, e fulguram num incêndio infinito.
- Tudo isso enquanto Adonai perfurava o meu ser com sua espada que tem quatro lâminas; a lâmina do raio, a lâmina da Torre, a lâmina da serpente, a lâmina do Falo.
- Também ele me ensinou a santa palavra inefável Ararita, de modo que eu fundi o ouro sêxtuplo em um único ponto invisível, sobre o qual nada pode ser falado.
- Pois o Mestrado desta Obra é um mestrado secreto; e o sinal do seu mestre é um certo anel de lápis-lazúli com o nome do meu mestre, que sou eu, e o Olho está no Centro deste.
- Ele também disse: Isto é um sinal secreto, e tu não o revelarás ao profano, nem ao neófito, nem ao zelator, nem ao practicus, nem ao philosophus, nem ao adepto menor, nem ao adepto maior.
- Porém ao adeptus exemptus tu te revelarás se tu necessitares dele para as operações menores da tua arte.
- Aceita a adoração dos tolos, a quem tu odeias. O Fogo não é corrompido pelos altares dos Ghebers, nem a Lua é contaminada pelo incenso daqueles que adoram a Rainha da Noite.
- Tu habitarás entre as pessoas como um precioso diamante entre diamantes turvos, e cristais, e pedaços de vidro. Apenas o olho do mercador justo te perceberá, e terá apenas a ti mergulhado em sua mão e te glorificará perante os homens.
- Mas tu não darás atenção a nada disso. Tu serás sempre o coração, e eu, a serpente, me enroscarei fortemente ao teu redor. Minha espira jamais relaxará ao longo dos æons. Nem modificação, nem pesar, nem a não substancialidade terá a ti; pois tu terás passado para além de todas estas.
- Exatamente como o diamante resplandecerá vermelho para a rosa, e verde para a folha da rosa; assim tu habitarás aparte das Impressões.
- Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.
- Também tu estás além das estabilidades do Ser e da Consciência e do Êxtase; pois eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.
- Também tu discorrerás sobre estas coisas para o homem que as escreveu, e ele compartilhará delas como um sacramento; pois eu que sou tu sou ele, e o Pilar está estabelecido no vazio.
- Da Coroa até o Abismo, assim isto segue único e ereto. Também a esfera ilimitada cintilará com o brilho disto.
- Tu regozijarás nos poços de água adorável; tu adornarás tuas damas com pérolas de fecundidade; tu acenderás chamas como línguas flagelantes do licor dos Deuses entre os poços.
- Também tu converterás o ar todo abrangente nos ventos de água opaca, tu transmutarás a terra num abismo azul de vinho.
- Rubros são os brilhos de rubi e ouro que ali cintilam; uma gota embriagará o Senhor dos Deuses meu servidor.
- Também Adonai se dirigiu a V.V.V.V.V. dizendo: Ó meu pequeno, meu meigo, meu pequeno amoroso, minha gazela, meu belo, meu menino, deixemos o pilar do Infinito repleto com um beijo infinito!
- De modo que o estável foi abalado e o instável ficou imóvel.
- Aqueles que contemplavam isto gritaram assustados num formidável tumulto: O fim das coisas chegou até nós.
- E foi assim mesmo.
- Eu também estava na visão do espírito e observei um cortejo parricida de ateus, que seguia de dois em dois no êxtase celestial das estrelas. Eles riam e regozijavam excessivamente, estavam vestidos com túnicas púrpuras e embriagados com vinho púrpuro, e toda a sua alma era uma chama como uma flor púrpura de santidade.
- Eles não contemplavam a Deus; eles não contemplavam a Imagem de Deus; portanto eles foram erguidos até o Palácio do Esplendor Inefável. Uma espada afiada golpeou com força diante deles, e o verme Esperança se contorceu na sua agonia de morte sob os seus pés.
- Assim como o seu êxtase lançou distante a Esperança visível, também o Medo Invisível voou para longe e não mais existia.
- Ó vós que estais além de Aormuzdi e Ahrimanes! Benditos sois vós pelas eras.
- Eles forjaram a Dúvida como uma foice, e colheram as flores da Fé para suas grinaldas.
- Eles forjaram o Êxtase como uma lança, e perfuraram o antigo dragão que se sentava sobre a água estagnada.
- Então as fontes de água fresca foram abertas, de modo que o povo sedento pudesse ser saciado.
- E novamente eu fui trazido à presença do meu Senhor Adonai, e o conhecimento e a Conversação do Santo, o Anjo que me Protege.
- Ó Santo Exaltado, Ó Ser além do ser. Ó Imagem Auto Luminosa do Nada Inimaginável, Ó meu querido, meu belo, vindes Tu e segui-me.
- Adonai, divino Adonai, que Adonai inicie um galanteio refulgente! Então eu ocultei o nome do Seu nome que inspirou o meu êxtase, perfume de cujo corpo encanta a alma, a luz de cuja alma rebaixa este corpo até aos animais.
- Eu suguei o sangue com os meus lábios; eu drenei o sustento da Sua beleza; eu A degradei diante de mim, eu A subjuguei, eu a possuí, e a Sua vida está dentro de mim. No Seu sangue eu gravei os enigmas secretos da Esfinge dos Deuses, que ninguém entenderá – salvo apenas o puro e voluptuoso, o obsceno, o andrógino e o hermafrodita que passaram para além das barras da prisão que o velho Lodo de Khem colocou nos Portões de Amenti.
- Ó meu adorável, meu delicioso, toda noite eu derramarei a libação nos Teus altares; toda noite eu queimarei o sacrifício de sangue; toda noite eu balançarei o turíbulo do meu deleite perante Ti, e o fervor das orações embriagará as Tuas narinas.
- Ó Tu que vieste da terra do Elefante, cingido com a pele do tigre, e coroado com o lótus do espírito, Tu inebrias a minha vida com a Tua loucura, que Ela salte à minha passagem.
- Ordenai que as Tuas donzelas que Te seguem cubram para nós uma cama com flores imortais, para que nós possamos obter ali o nosso prazer. Ordenai que os Teus sátiros juntem espinhos entre as flores, para que nós possamos obter ali a nossa dor. Que o prazer e a dor sejam misturadas em uma oferta suprema ao Senhor Adonai!
- Também eu ouvi a voz de Adonai, o Senhor, o desejável se preocupando com aquilo que está além.
- Que os habitantes de Thebai e dos templos de lá não tagarelem nenhuma vez sobre os Pilares de Hercules e o Oceano do Oeste. Não é o Nilo uma bela extensão de água?
- Que o sacerdote de Isis não descubra a nudez de Nuit, pois cada passo é uma morte e um nascimento. O sacerdote de Isis ergueu o véu de Isis, e foi morto pelos beijos de sua boca. Então ele foi o sacerdote de Nuit, e bebeu do leite das estrelas.
- Que o fracasso e a dor não desviem os adoradores. As fundações da pirâmide foram talhadas na rocha viva antes do por do sol; o rei lamentou na alvorada que a coroa da pirâmide ainda não foi trabalhada na terra distante?
- Havia também um pássaro sussurrante que falou para a cerastes de chifres, e rogou a ela por veneno. E a grande serpente de Khem o Santo, a real serpente Uræus, respondeu a ele dizendo:
- Eu velejei sobre o céu de Nu na carruagem chamada Milhões-de-Anos, e eu não vi criatura alguma em Seb que fosse igual a mim. O veneno da minha presa é a herança do meu pai, e do pai do meu pai; e como eu o darei a ti? Vive tu e teus filhos como eu e meus pais vivemos, mesmo em cem milhões de gerações, e pode ser que a piedade dos Poderosos possa conceder aos teus filhos uma gota do veneno da velhice.
- Então o pássaro sussurrante ficou aflito em seu espírito, e ele voou para as flores, e foi como se nada tivesse sido falado entre eles. Ainda assim em um pequeno instante uma serpente o atacou e ele morreu.
- Porém um Ibis que meditava sobre a margem do Nilo, o belo deus ouviu. E ele deixou de lado seu modo de Ibis, e se transformou numa serpente, dizendo Porventura em cem milhões de milhões de gerações de meus filhos, eles obterão uma gota do veneno da presa do Exaltado.
- E vede! Antes que a lua crescesse três vezes ele se tornou uma serpente Uræus, e o veneno da presa ficou estabelecido nele e na sua semente por todo o sempre.
- Ó tu Serpente Apep, meu Senhor Adonai, é uma partícula do tempo mais ínfimo, esta viagem através da eternidade, e à Tua vista os marcos de fronteira são de mármore bem claro intocados pelo instrumento do escultor. Portanto Tu és meu, nesse momento e para sempre e por toda a eternidade. Amém.
- Além disso, eu ouvi a voz de Adonai: Selai o Livro do Coração e da Serpente; com o número cinco e sessenta sela tu o santo livro.
Como ouro fino que é transformado num diadema para a leal rainha do Faraó, como grandes pedras que são cimentadas juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asar, igualmente tu unirás as palavras e as escrituras, de modo que em tudo haja um Pensamento de Mim teu deleite Adonai. - E eu respondi dizendo: Isto é feito exatamente de acordo com a Tua palavra. E assim foi feito. E aqueles que leram o livro e debateram sobre ele passaram para a terra desolada das Palavras Estéreis. E aqueles que selaram o livro no seu sangue foram os escolhidos de Adonai, e o Pensamento de Adonai era uma Palavra e uma Escritura; e eles habitaram na Terra que os viajantes de locais distantes chamam de Nada.
- Ó terra além do mel e dos temperos e toda perfeição! Eu habitarei ali com o meu Senhor para sempre.
- E o Senhor Adonai se deleitou em mim, e eu levei o Cálice da Sua alegria para os fatigados da velha terra cinza.
- Aqueles que dele beberam foram afetados com doenças; a abominação os dominou, e seu tormento é como a grossa fumaça preta da morada do mal.
- Mas os escolhidos beberam dele, e se tornaram exatamente como o meu Senhor, meu belo, meu desejável. Não existe vinho igual a este vinho.
- Eles estão reunidos em um coração cintilante, como Ra que reuniu suas nuvens ao Seu redor ao entardecer em um mar derretido de Prazer; e a serpente que é a coroa de Ra os atou com o cinto dourado dos beijos da morte.
- Assim também é o final do livro, e o Senhor Adonai está ao redor deste em todos os lados como um Raio, e uma Torre, e uma Serpente, e um Falo, e no centro deste ele é como a Mulher que lançou o leite das estrelas dos seus mamilos; sim, o leite das estrelas dos seus mamilos.
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